Diário

sábado, 22 de novembro de 2008

Novatos

Sábado de tarde, estávamos, Claudinha e eu, sentadas na sorveteria do seu Mário, tomando uma casquinha e um supersandae de morango (essa era eu, é claro) numa tarde sem mais nada para fazer. Tudo estava tão parado na praça... até o assunto estava escasso e simplesmente tomávamos uma colherada atrás da outra, bem devagar, nos concentrando apenas em espantar o calor. Eu deveria ter desconfiado de toda aquela calmaria, ela era do tipo que antecede grandes tempestades.
Como um raio que anuncia a chuva iminente, o cotovelo de Claudinha se afundou nas minhas costelas, me arrancando da meditação sobre os pedacinhos de amendoim que eu meticulosamente mastigava. Com o susto, gritei, me virando aborrecida para pedir explicação e encontrei a conhecida expressão de boa surpresa no rosto da minha melhor-amiga. Minha face mudou de raiva para satisfação e logo para apavoramento: Claudinha me apontou (ainda com o cotovelo) dois meninos extremamente gatos atravessando a rua, mas, o meu grito tinha chamado a atençaõ deles para nós e, pior, eles vinham bem na nossa direção! Comentei isso com minha amiga e ouvi um "Eu acho que eles só querem um sorvete, Linda! Porque você sempre acha que tem que ser com a gente?" Eu ficaria até feliz que ela tivesse razão dessa vez, mas eles logo a desmentiram, parando ao nosso lado com sorrisos (e quê sorrisos!) e um "Oi!"
Depois de olhar para Cláudia com olhar de "eu não disse?" Tentei estampar meu sorriso mais simpático para saudar os desconhecidos e esconder o meu constrangimento. "Olá" , dissemos quase ao mesmo tempo (nossa, como somos articuladas!). Um nanosegundo de silêncio constrangedor foi logo dissipado pelo mais alto dos dois. Disse que se chamava Beto e que ele e seu irmão, Sérgio, tinham acabado de se mudar para a cidade. Vinham de Porto Alegre. Claudinha, cujas habilidades sociais são muito mais bem desenvolvidas do que as minhas, assumiu o leme do nosso lado da conversa, enquanto eu sorria e me mostrava interessada (não que eu estivesse fingindo nem nada assim). Com isso, descobrimos que a mãe deles era médica e tinha sido contaratada pelo hospital regional, que eles tinham morado a vida toda na cidade grande e que não estavam gostando muito da aparente monotonia da nossa cidadezinha. Claudinha nos defendeu, dizendo que havia muita diversão por aqui, era só uma questão de conhecer as pessoas certas. Também lhes desejou boas vindas e prometeu apresentar nossos amigos.
Não preciso nem dizer que eles adoraram. Sorriram ainda mais (se é que isso era possível) e disseram que já estavam começando a gostar mais da cidade agora que tinham conversado conosco. Se despediram, compraram casquinhas com seu Mário - Beto, de chocolate e Sérgio, de creme - e saíram pelo outro lado seguindo em direção ao lado oposto da praça.
Muitas perguntas logo se distinguiram do turbilhão em que se encontrava minha mente: Quem são afinal esse gatos? O que eles acharam de nós? O que vai mudar com a chegada deles? Mas principalmente, o que seria de mim sem minha amiga para me defender nos embates que são travar novos conhecimentos sociais? E, por que eu sou tão socialmente travada???